6 de out. de 2008

Ele, poucas palavras e depois o silêncio.


Escrito no convite tinha o horário da festa. Ele chegou cinco minutos depois, quando na sala do luxuoso apartamento do Gerente Comercial via-se pessoas sorrindo, bebendo e brindando. Brindando, bebendo e sorrindo(1). E assim a festa ia, e ele, no ritmo dela. Noite adentro, bebida a fora. Ele só foi convidado por ser vizinho do anfitrião, pessoa que ele mal conhecia, melhor, não conhecia nada além do nome. Na festa, basicamente funcionários da empresa do anfitrião. Ele, nem aí, afinal, comida e bebida de primeira já o bastava.
Certa altura da noite, todo mundo indiretamente apresentado pelo teor alcoólico dos copos que insistentemente e incessantemente circulavam, ele chega perto do anfitrião(2) que naquele exato instante estava cercado por cinco pessoas e manda em voz alta:

- Cara, que festa... parabéns, festão, festão mesmo.

O anfitrião, homem ponderado, moderado e reservado, sorri amarelamente de volta, sem responder nada. Ele, que não sabe onde fica o freio social, continua em voz alta:

- Mas, aqui entre nós... Na boa, amanhã tu vai ligar reclamando desse pessoal do bufê, né não? Cara, só tem Pepsi aqui.

Silêncio total. Como num filme, até a música parou depois do comentário dele. Todos se entreolharam sem graça, exceto por um estagiário que naquele momento, entrou debaixo da mesa para segurar a gargalhada. Do anfitrião, apenas a serenidade de quem agradece a deus por não portar uma .38 no lugar do smartphone.
Bom, dizem que essa festa ainda rendeu muitos comentários nos corredores do setor comercial da multinacional, a rádio peão então, já aumentou em escalas dantescas. Na versão da Zita do cafezinho, até socos e polícia perfumam a estória. Hoje o anfitrião, que mora em outra residência, foi promovido a diretor regional da Pepsi. E ele, o vizinho(3), aprendeu uma lição: nunca mais misturar refrigerante e uísque.


1.Necessariamente sem ordem.
2.Essa altura, já era um dos seus melhores amigos.
3.Ele que não lembra da festa.