1 de mar. de 2010

Um dia na vida de seu Francisco II


As histórias dele viraram lenda, mas não desapareceram no limbo dos contos mortos. A verdade é que o cotidiano de seu Francisco não tinha nada de tão natural, por isso mesmo o mais natural é que os acontecimentos por ele vividos sempre foram contatos naquela região.

Certo dia, enquanto pastorava sua pequena plantação de subsistência, percebeu que uma das galinhas estava solta, mas precisamente, caminhava livre sobre a modesta plantação de coentro. Ele então coçou a cabeça suada e foi até lá para levá-la de volta ao galinheiro. A ave parecia muito feliz longe do poleiro, tanto que ciscou alegremente toda a plantação de coentro, espalhando as pequenas folhas verdes para todo lado. Em pouco tempo seu Francisco pôde constatar que a galinha havia destruído todas as suas cheirosas plantas.

Sem filosofar muito, seu Francisco segurou o galináceo pelo pescoço magro, puxou a peixeira de trinta centímetros e ergueu o braço. A lamina brilhou ao sol, chamando a atenção da sua mulher que passava por ali. Assustada, ela que viu a cena no auge da fúria do marido, gritou para que ele não a matasse. Ele gritou de lá “não vou matar, só vou ensiná-la a não ciscar mais em cima do meu coentro”. Mal terminou de falar, desceu a faca nos pés da galinha, arrancando o que seria os dedos da coitada.

A coitada da ave realmente não conseguiu mais ciscar, e viveu a mancar até o fim da sua vida. Parecia andar bêbada. A coitada ficou mufina, andando torto até os últimos dias. Ou seja, até cair na panela. Pois a mulher de seu Francisco, com pena do animal de pena, preferiu jantá-la ao vê-la cair do poleiro vez por outra. O certo é que seu Francisco provou que, com paciência, é possível ensinar aos seus animais a viver em harmonia com ele.


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