17 de out. de 2018

10 anos


Imagine-se há 10 anos atrás, imagine-se por volta de 2008. Em termos de futebol, o meu time, o Sport Recife, torna-se o primeiro time do nordeste a consagra-se campeão da Copa do Brasil. Em termos de política, a direita e a esquerda, leia-se PT e PMDB, disputam um acalorado embate democrático no tabuleiro da política nacional. 
Enquanto você espera o sinal fechar para cruzar uma rua movimentada, alguém se aproxima e, esbaforido, se apresenta: “Você precisa acreditar em mim, tenho pouco tempo, vim do futuro e não poderei ficar aqui muito tempo” Roubo? Engano? Você não sabe, mas por algum motivo você fica olhando aquele sujeito e decide não fugir, por alguma razão você escuta o que ele tem para falar. Ele então continua. “Venho de 2018 e preciso avisar a todos os brasileiros para não deixarem a nossa democracia morrer”. Louco? Drogado? Você também não sabe. Mas por uma faísca de curiosidade, você o deixa continuar, e ele continua.“você acredita que em 2018 elegeremos um presidente que se diz homofóbico com orgulhoQue diz que na ditadura o Brasil foi um país melhor? que o erro da ditadura foi não ter matado mais pessoas? Que se diz cristão, mas fala que bandido bom é bandido morto? Que a caça é um esporte saudável? Que quer militarizar as escolas? Que quer abolir Paulo Freire do MEC com lança-chamasQue diz que as minorias se vitimizam por privilégios? Que não existe racismo? Que não tem tem dívida nenhuma com os negros pois não foi ele quem escravizou, mas sim os próprios negros? Que batendo na criança ela não será gay? Que só teve uma filha porque fraquejou, senão ela teria nascido homem? Que diz rindo que praticou zoofilia? Que quer facilitar o porte de armas num país onde a violência e o ódio cresce? Que fala em metralhar opositores políticos? Que não vai demarcar nenhum centímetro de terra para índios e quilombolas? Que disse abertamente que não estupraria uma colega de trabalho por que ela não merece?” continuaEsse mesmo candidato é elogiado pela KKlux Klan em pleno 2018. Acredite, esse candidato será o presidente do Brasil!”

Você explode numa risada, bate palmas enquanto ri de olhos fechados. Uma lágrima cai do seu olho. Você enxuga a lágrima enquanto busca respirar. Há tempos você não ria tanto. O sujeito a sua frente o olha triste. Ele parece acreditar no que diz, por outro lado, você não consegue acreditar em nada que ouviu. Ainda rindo, você se despede e cruza a rua. 

Quem acreditaria naquele sujeito há 10 anos atrás? que romancista escreveria tão estapafúrdia ficção? Que profeta do apocalipse preveria esse desastre? 

Aquele sujeito e o ouvinte somos nós. 
Ainda há tempo.